Hora de oração. Os crentes são chamados à mesma. Ouvem-se os muezzin ( ou os altifalantes ) do alto dos minaretes a chamar à oração. No silêncio de uma pequena cidade como Gizan soa como música que nos dá alguma tranquilidade ( mesmo quando não se percebe árabe, como é o meu caso ). É um ritual que se repete cinco vezes ao dia. Não deixa de ser curioso ver qualquer crente , mesmo sózinho, estender o seu tapete, virar-se para Meca e rezar. Nas instalações do porto, onde trabalho, interrompe-se a actividade e todos rezam. Antes é vê-los a fazerem as abluções...nem que para isso utilizem os lavatórios para lavarem os pés. ( Nas futuras instalações do novo porto em fase de construção, quando lá cheguei, já estão previstos Wc's com dispositivos mais práticos ! ).O comérico fecha. E para os mais distraidos lá andam os "policías" religiosos ( nomeadamente no velho souk ) com as suas chibatas para lhes recordar que têm que fechar a loja. Os grandes ajuntamentos, nas mesquitas, verificam-se às 6ª feiras o dia santo dos muçulumanos.
Esta ausência de hierarquia religiosa sempre me fascinou, nomedamente quando me lembro dos meus tempos de jovem cristão que comungou, fez a comunhão solene e o crisma, contactou com toda a complexidade da hierarquia da igreja católica. O que não impede que hoje seja um agnóstico.
Resultará isso das palavras do profeta Maomé : " Não há outro deus senão Deus, e Maomé é o seu profeta." ? Ou seja da não necessidade de haver alguém que intermedeie a relação do crente com deus ?
Mas depois ao tentar, em conversa com os sauditas, egipcíos, tunisinos, sudaneses, etc, que lá conheci, compreender essa realidade...a coisa complica-se. Já que na ausência de uma hierarquia formal, haverá uma hierarquia estabelecida ou por razões de ordem social ( os mais letrados e/ou poderosos ) ou por razões de quem tem estudos religiosos ( os que frequentaram escolas religiosas ) e que é aceite implicitamente sem grande espírito crítico. Para quem trabalhava no porto foi fácil verificar que quem chamava à oração era o Director Financeiro. E na sua ausência seria o seu número dois. Apesar das restrições existentes num país como a Arábia Saudita não deixava de ser curioso as piadas ( em voz baixa ) dos quadros sauditas mais liberais que o chamavam de ayatollah !
Lembremo-nos que os sunitas são maioritários neste país...e que a revolução xiita tinha sido há 5 anos. Ramo do islamismo que no entanto possui um "clero" ( se assim se pode dizer ) de mullahs, cuja alta hierarquia dos "mudjahidin infalíveis" desempenha um papel intercessor entre Alá e os homens e está habilitada a tomar decisões teológicas canónicas ( o que não é o caso dos ulemás sunitas ).
Esta ausência de hierarquia religiosa sempre me fascinou, nomedamente quando me lembro dos meus tempos de jovem cristão que comungou, fez a comunhão solene e o crisma, contactou com toda a complexidade da hierarquia da igreja católica. O que não impede que hoje seja um agnóstico.
Resultará isso das palavras do profeta Maomé : " Não há outro deus senão Deus, e Maomé é o seu profeta." ? Ou seja da não necessidade de haver alguém que intermedeie a relação do crente com deus ?
Mas depois ao tentar, em conversa com os sauditas, egipcíos, tunisinos, sudaneses, etc, que lá conheci, compreender essa realidade...a coisa complica-se. Já que na ausência de uma hierarquia formal, haverá uma hierarquia estabelecida ou por razões de ordem social ( os mais letrados e/ou poderosos ) ou por razões de quem tem estudos religiosos ( os que frequentaram escolas religiosas ) e que é aceite implicitamente sem grande espírito crítico. Para quem trabalhava no porto foi fácil verificar que quem chamava à oração era o Director Financeiro. E na sua ausência seria o seu número dois. Apesar das restrições existentes num país como a Arábia Saudita não deixava de ser curioso as piadas ( em voz baixa ) dos quadros sauditas mais liberais que o chamavam de ayatollah !
Lembremo-nos que os sunitas são maioritários neste país...e que a revolução xiita tinha sido há 5 anos. Ramo do islamismo que no entanto possui um "clero" ( se assim se pode dizer ) de mullahs, cuja alta hierarquia dos "mudjahidin infalíveis" desempenha um papel intercessor entre Alá e os homens e está habilitada a tomar decisões teológicas canónicas ( o que não é o caso dos ulemás sunitas ).
Depois de dois anos passados em Gizan e vinte do meu regresso a Portugal, ainda me pergunto porque razão uma religião com uma tal base "anarquista" deu origem a regimes autoritários e a grupos terroristas que reinvidicam o nome de deus em vão.
Será porque Maomé era também um chefe militar e a questão do califado estar tão presente na sua sucessão e na expansão da fé ? Será porque para cada muçulumano a sua religião é fundamental para ele ?
2 comentários:
Fascinante a narrativa sobre as suas experiências e percepções em terra estrangeira. Quem "vive" uma cultura diferente consegue compreendê-la ou criticá-la melhor.
Abraços,
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