Agora vou à igreja quando há casamentos, baptizados e funerais. Se bem que as duas primeiras razões sejam cada vez mais raras. Mas houve tempos em que ia todas as semanas. Fui baptizado. Frequentei a catequese. Fiz a 1ª comunhão e o crisma. Mas progressivamente, durante a adolescência e para desgosto da mãe, fui-me afastando da religião. Mas agradeço aos pais a educação que me deram, incluindo a religiosa. Hoje permite-me ter mais informação e eventualmente perceber ( ou não perceber ) melhor os argumentos religiosos do Não.
Uma primeira curiosidade é ouvir esses defensores do Não contarem uma história imaginária da Igreja Católica. Ouvindo-os somos levados a acreditar que a Igreja esteve sempre na vanguarda da luta contra as injustiças e pelo progresso. Nada mais enganador. Sei que a Igreja tem sabido adaptar-se aos tempos e que muitos dos seus pensadores e teólogos são intelectuais que dedicam sériamente a sua actividade para o desenvolvimento e expansão da fé. Convém , no entanto, que esses defensores do Não não exagerem na sua ignorância.
Uma segunda curiosidade é ouvi-los falar sobre a vida e a não vida. E neste tema algo fermentava no meu subconsciente que me dizia que , neste ponto, a Igreja tem uma posição filosófica ambígua. Depois de ouvir e ler tantos argumentos de um lado e do outro, o click fez-se e regressei aos meus tempos de criança quando frequentava a catequese. E lembrei-me de um tema recorrente das nossas conversas ( e medos ) de miúdos : o limbo ! O paraíso e o inferno eram locais claros para nós. Um era a felicidade e a luz, o outro a dor e punição a ferro e fogo. Claras eram também as razões porque iríamos para um ou para outro, quando morressemos. Menos claro era o limbo. Diziam-nos, os catequistas e padres, que algures havia o limbo, local destinado áqueles que não tendo sido baptizados não eram ainda gente, ou seja vida ! Como nascemos com o pecado original estamos afastados da presença de Deus a não ser que nos baptizemos. Ou seja só tinhamos direito à alma ( ou seja à vida ) pelo baptismo. Nunca ficavamos muito convencidos ! Coisa que não se resolvesse com uma futebolada.
Hoje não sei se as crianças que frequentam a catequese ainda são ensinadas desta forma. Quero acreditar que não..mas deixem-me ter as minha dúvidas.
Mas mesmo que o não sejam , não venham esses senhores do Não dizer-nos que a Igreja é clara neste tema da vida, quanto mais não seja porque no dia 11 de Fevereiro o que está em causa é a despenalização das mulheres que abortam e não a vida.
Já agora a definição de dois termos usados no texto segundo o Dicionário Houaiss :
- Baptismo : primeiro dos sete sacramentos da Igreja católica apostólica romana, no qual a imersão do baptizando na água, junto com a recitação de determinadas palavras sacramentais, confirma a alma do baptizando em Cristo, assinala a sua alma como cristã e insere-a no corpo místico de Cristo, a Igreja, purificando-a de culpas e pecados.
- Limbo : na religião cristã, morada das almas que, não tendo cometido pecado mortal, estão afastadas da presença de Deus, por não haverem sido remidas do pecado original pelo baptismo ( como, p. ex., as almas ditas justas que viveram antes do advento do cristianismo ).
Eu continuo a votar SIM porque o que está em causa não é esta discussão filosófica, mas sim a despenalização das mulheres que abortam sabendo que algumas delas morrem porque não o fazem em condições

1 comentário:
mai' nada!
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