Luanda : fragmentos de cartas ( III )

Mais uma carta do meu irmão que continua por Angola.

Esta é da : " viagem, neste último sábado ( 14 de Abril ) ao Bengo (Província que circunda Luanda), para ir visitar a tal fazenda que pode vir a ter 70.000 hectares permitiu-me tirar imensas fotografias (...) ! Como nem sempre consigo tirar fotografias focadas tenho deitado algumas fora. Mas agora desde que descobri que no Google existe esta ferramenta fantástica ("Picasa") para trabalhar e enviar as fotografias sem a comprimir, até as fotografias desfocadas podem ser aproveitadas. Como fiquei surpreendido com o resultado não hesitei em enviá-las ...."

" A do barco é no Bengo. Vários barcos serviam para transportar pessoas e produtos acabados de colher. Apesar da riqueza da terra, a domesticação da agricultura é frágil e rudimentar, feita à força de braços e os excedentes criados não se destinam a criar entesouramento, mas apenas algum poder de troca com outras comunidades e mesmo com as cidades. "

Esta : "... retrata um quadro que, por tão exaustivo, se torna banal. Ela foi tirada na estrada de acesso a Luanda na zona de Viana. O engarrafamento gigantesco provocou a imobilização da viatura e então comecei a registar as pessoas que iam passando apenas esperando que o registo momentâneo pudesse revelar algo de interessante. A transformação desta fotografia quase num quadro impressionista permite relevar os sujeitos principais do momento. A invulgaridade do lenço branco para acomodar a criança nas costas da mãe empresta a esta composição uma luz muito especial. E ela revela a força do género feminino nesta sociedade onde as mulheres são trabalhadoras, mães, transportadoras de tudo: cheguei a ver mulheres que andando a pé longos kms transportam a criança nas costas, um braço leva um saco e o outro ampara o alguidar com produtos dentro apoiado na cabeça. "

E um P.S. meu : esta última fez-me "voltar" à Luanda que conheci há 43 anos.