05/04/07

País de travestis

Em tempos idos os jornalistas faziam-se na tarimba do dia a dia dos jornais. Aos futebolistas exigia-se saber o nome dos mariscos. Os outros ou tinham títulos académicos ou eram simplesmente "senhores" ou "senhoras donas" . E quem era do contra era vermelho.
Depois houve um tempo em que eramos todos "senhores", camaradas ou companheiros.
Mais tarde os modelos eram actores e vice-versa. As costureiras passaram a estilistas de moda. E agora até desenham relógios, canetas e tudo o resto...desde que lhes paguem. Alguns jornalistas passaram a doutores ou doutoras. Alguns professores e doutores a jornalistas e fazedores de opinião. Os comentadores políticos tornaram-se especialistas em futebol. E os comentadores desportivos em analistas políticos. Os futebolistas são modelos, actores e o que mais lhes pedirem. Especialistas da bola somos 9 milhões ! Os dirigentes desportivos são autarcas ou deputados ou será o contrário ? Os assessores de ministro têm uns biscates nas horas livres. Os jornalistas apresentam concursos televisivos ou fazem anúncios comerciais. Os paneleiros são gays . Os pretos afro descendentes. Os brancos ainda são brancos. Mas cada um de nós pertencerá a uma qualquer minoria. Os polícias e militares candidatam-se a sindicalistas. Os sindicalistas não frequentaram curso nenhum mas estão lá para durar. Os arquitectos só assim podem ser chamados se a Ordem autorizar. Os licenciados que dão pareceres técnicos querem tomar as decisões políticas. Ainda não há universidades para certificar o título de político. O engenheiro que não o será é primeiro ministro. Alguns dizem que por pouco tempo .Terá qualificações para o cargo ?
E hoje até uns gatos humorísticos se dedicam a colar cartazes políticos.

1 comentário:

Anónimo disse...

Meu caro António.

Sublinho o teu último parágrafo. Não que os Gatos, que fazem as minhas delícias, não possam fazer política, como qualquer pessoa ou grupo. Ou que não a façam, em cada programa. Mas fazê-la, desta forma - ainda por cima sem graça, cá para o meu gosto - e vir dizer que não fizeram, que é só humor, não lhes fica bem. Diferenças imperceptíveis, suponho, só acessíveis aos mais inteligentes...

Quanto ao mais, destaco aquela de um Primeiro-Ministro "sem habilitações". Havemos de reconhecer que, "conspirações" à parte, o homem pôs-se a jeito. Sem beliscar direitos dos cidadãos-que-também-são-políticos - mesmo no que toca ao legítimo aproveitamento das leis em vigor em matéria de transferências, currículos, upgrading, autonomia, equivalências, eu sei lá - e não comentando, sequer, o que por aí se passa em matéria de universidades privadas, havemos de convir que a história, porventura idêntica a tantas outras, é própria de um "país de doutores", como é Portugal.

Sempre foi. Com matizes diferentes, é certo, nos dias que vão correndo. Ontem, tínhamos meia-dúzia de "doutores". Hoje, meio-mundo é "doutor", ou aspira a sê-lo. Embora a questão não seja meramente quantitativa. Está em causa um modelo cultural, mais que uma categoria social. O legislador, em algumas leis que fez e outras que não fez, assumiu o modelo, actualizou-lhe os contornos e democratizou o acesso à categoria. As pessoas, essas, todas, mais não fizeram do que aproveitar. Chamar-lhe-iam parvas se o não fizessem ...

Coisa bem diferente seria, a propósito de graus académicos, falar de mérito e de qualidade de ensino, designadamente superior, em Portugal. Aí, creio, a conversa seria outra. E suspeito que nenhum "conspirador" encontraria nela terreno fértil para orquestrar cabalas de ocasião contra quem quer que fosse...

Abraço.