11/05/07

Ser independente : característica ou benefício ?

Parece que a moda ( ou obsessão ? ) dos independentes está de regresso com as próximas eleições para a Câmara de Lisboa.
Não tenho nada contra ( nem a favor ) dos independentes. Mas já tenho algo contra apresentar-se aquilo que é uma característica ( "independência" ) como um benefício para os eleitores. E a história recente de Lisboa ( e não só ) até já demonstrou que , eventualmente, terei razão.
Há na linguagem de muitos políticos ( e não só ) uma confusão de conceitos entre o que é uma característica ( " uma descrição de um produto ou serviço " ) e o que é um benefício ( " um valor personalizado que responde às perguntas : - o que fará ele por mim ? - o que é que isso significa para o utilizador?" ).
Talvez dando um exemplo sobre uma outra obsessão ( a de ser jovem ) me explique melhor. Tenho a certeza que me explicarei melhor porque vou recorrer a Nelson Rodrigues.
Cito do seu texto, de 22.01.1968, « "Jovem" Monstro » ( pág. 109 do livro "O Óbvio Ululante" da Companhia das Letras ) :
" Lavra por aí um outro tipo de obsessão. Sim, todo mundo quer ser "jovem". Não importam os méritos, os feitos, as virtudes, os pecados de ninguém. Só importa ser ou não ser jovem. E os que, por indesculpável azar, envelheceram, procuram uma espécia de rejuvenescimento no convívio das Novas Gerações.
Quem o diz é d. Avelar : - "Precisamos acreditar no jovem". Li tal declaração e a reli. Mas como ? Temos de acreditar numa certidão de idade? E por que não acreditar no sujeito de 35 anos, de 47 anos, ou de 53? O jovem, o jovem. Esse misterioso "jovem", vago, difuso, impessoal, sem cara, sem caráter, só me convence como um monstro.
E se for um pulha ? Sim, se for um desses que atiram Aída Cury pela janela ? Eis a casta, a singela verdade : - esse "jovem" utópico, ideal, jamais existiu. Corção me dizia : - "É como se alguém dissesse : - vamos acreditar no homem de 43 anos". Ou, imaginem, o sujeito prova que tem 43 anos ou, então, não entra em casa de família."

1 comentário:

Jorge Pinheiro disse...

Acho que devem pertencer sempre a partidos. Assim não temos dúvidas nem surpresas. Agora com um independente nunca sabemos: será honesto? Será corrupto?