Ontem, há 3 anos, o meu irmão José Luis ( o mais velho ), já doente, telefonava a dizer que tinha tido uma hemorragia e que seria deslocado para o hospital de Genéve.
Hoje, há 3 anos
"acordei com a sensação que algo de triste iria acontecer e passei grande parte da manhã nos Jerónimos a pedir ajuda ( ?? ) não sei bem a quem, mas acreditando que pelo menos a reflexão individual num ambiente como o dos Jerónimos o poderia ajudar. Mas não terá servido de nada pois quando cheguei a casa para almoço recebia o telefonema a anunciar o que tinha persentido. "
parte do que escrevi como resposta a uma mensagem do meu amigo João M. que me dizia :
"Meu bom António,
Até agora, a vida tem sido doce para comigo, e não me tem submetido a provas tão duras como aquela pela qual tu passas actualmente; na verdade, e se excluir a morte do Brandão na tropa - um colega de liceu que me ajudou muito a crescer - as pessoas que me são muito próximas só morreram quando era devido (por muito cruel que isto possa soar), depois de terem vivido uma vida completa.
Apesar disso, confronto-me muitas vezes com o sentido de injustiça que sempre associamos a uma morte prematura e há dois pensamentos que me têm ajudado a melhor suportá-lo, talvez por a sua ácida ironia encontrar em mim algum reflexo:
Um deles, li-o há alguns anos na 1ª página do Público a propósito de mais alguma daquelas catástrofes naturais, sendo atribuído a um pensador francês, dizendo simplesmente: "Deus, por pudor, não existe".
O outro, que penso ser da autoria de Einstein ou de alguém ligado à investigação na Física, que teria dito a propósito da busca para um eventual sentido para a nossa existência: "Afinal, Deus joga aos dados".
Não é talvez o conforto que neste momento mais falta te faça, mas era essa a minha intenção, se bem que - como costuma dizer o Jonica - entre amigos, estas intenções nem precisem de ser referidas.
Um forte abraço João "
Hoje, passados 3 anos sobre a morte do meu irmão, continuo com a sensação de que não terei tido a capacidade de o ajudar na fase da doença. A desculpa da distância, ele vivia em Genéve, é cómoda mas falsa e egoista.
Hoje penso que o meu medo de o visitar e falar com ele seria o reflexo de que teria de lhe dizer coisas duras que deviam ter sido ditas num passado longínquo e não naquele momento. Naquele momento, há 3 anos, ele precisaria de palavras que eu não saberia dizer. Daí o meu silêncio de então e o meu remorso de hoje.
Que descanse em paz.
1 comentário:
Não sabia disto. Um abraço especial.
Enviar um comentário