Se há coisa que me irrita numa discussão política ( e não só ) é quando uma das partes começa a reclamar a superioridade moral da sua posição como argumento para assim "vencer" a outra ou outras. Devem ser resíduos da educação que os meus pais me deram. E a minha mãe até era católica. Ao estarem convencidos que a sua posição vencerá porque é moralmente superior à outra entramos no campo da fé e a discussão morre. Dela não poderão surgir novas ideias ou propostas. Em Portugal, na ausência de uma direita religiosa com tradição e implantação, esse papel de tele-evangelistas é feito na perfeição pelo PCP e pelo BE. Ao ouvi-los regresso à minha juventude quando frequentava a catequese e a missa, se bem que o missal seja outro.
Vem isto a propósito do sequestro de Ingrid Betancourt pelas FARC na Colômbia. Se perguntarmos a qualquer dirigente do PCP se sabe porque é que um grupo de canalhas narco-traficantes sequestrou Ingrid Betancourt respondem como o marido que chegava a casa e batia à mulher. Perguntado se o fazia por alguma razão , respondeu : " Não, mas ela lá saberá porque lhe bato."
De seguida, se perguntarmos a esse mesmo dirigente do PCP porque não exigem a libertação de Ingrid Betancourt conta-nos a história universal da repressão capitalista e fascista. Se lhe perguntamos pela comunista ( repressão ) diz que isso é outra história. Foram erros ou desvios necessários para educar e corrigir os burgueses ou os simples de espírito que não percebiam o caminho dificil da construção da sociedade sem classes. E a história dar-nos-á razão, conclue.
Assim sendo no amplo espaço de discussão política (??) que é a Festa do Avante não vale a pena discutir esse tema e pedir a libertação de Ingrid Betancourt. Assunto encerrado.Não, não é assunto encerrado porque Ingrid Betancourt continua sequestrada há mais de 2000 dias e há que continuar a exigir a sua libertação.
Volto à superioridade moral citando Nelson Mandela,pág. 192 de " Longo Caminho Para a Liberdade 2"( Editora : Campo da História ) . O episódio passa-se em 1955. Mandela tinha 37 anos :
" Quando o Daliwonga terminou, respondi que , embora compreendesse muito bem a sua posição pessoal enquanto chefe, queria crer que os seus interesses estavam em conflito com os da comunidade. Afirmei que, se estivesse numa posição semelhante à dele, tentaria subordinar os meus interesses pessoais aos do povo. Imediatamente me arrependi deste último reparo, porque sabia que, em discussões, nunca vale a pena adoptar um tom de superioridade moral em relação ao adversário. Reparei que o Daliwonga se contraiu quando fiz esta observação e rapidamente levei a discussão para assuntos mais gerais."
9 comentários:
Caríssimo, Nelson Mandela também já foi considerado terrorista, o seu Partido já foi tido como Organizaçao terrorista.
Agora, já gosta dele.
Talvez um dia também goste das FARC, quem sabe.
Porquê? Porque a definição de terrorismo é puramente política, para servir interesses e nada mais.
Portanto, não interessa nada quem a UE e EUA consideram terrorista.
Finalmente, porquê essa obcessão com Ingrid? Tem a mesma preocupação para todos os presos políticos do Estado colombiano? E do israelita? E do norte-americano?
Parece-me que não..
António. Gostava de ler o teu comentário a este comentário. Com tempo e calma, sem pressas e, principalmente, sem recurso a uma adjectivação apriorística, tipo "canalha", ao menos enquanto o conceito não estiver devidamente consensualizado ou, de outra forma, estabelecido. A democracia e a liberdade, com efeito, são, muitas vezes, usadas como "armas de arremesso", ainda por cima intocáveis, em nome, também elas, da "superioridade moral" que aqui vituperas. Basta ler à nossa volta. Abraço. CM.
De facto é preciso muita meditação!
Carlos Maria, Caríssimo
É com todo o prazer que faço o meu comentário ao comentário do ac.
Qual é o problema ( ou dificuldade ) que alguns têm em denunciar os crimes dos regimes comunistas ?
Qual é o problema ( ou dificuldade )que alguns têm em denunciar a duplicidade hipócrita do PCP, como se estivesse acima de qualquer crítica ?
Ou acreditas que esses crimes e essas hipocrisias são justificáveis em nome de um bem colectivo e comum ?
Quanto ao canalha :
que outro termo posso eu utilizar para quem sequestra uma pessoa que regressou ao seu país para participar na vida política do mesmo. É eleita senadora. Quer combater a corrupção. Quer mesmo encontrar-se com as FARC. E em plena campanha eleitoral é sequestrada em 2002. E desde então nada.
Querias que eu lhes chamasse meninos do coro ?
Um abraço
António,
de acordo.Um abraço.
Já cá Faltava… O SILÊNCIO ENSURDECEDOR
Registe-se o SILÊNCIO ENSURDECEDOR da esmagadora maioria dos blogues defensores da democracia voluntariamente apanhados pelo fenómeno do “El Niño colombiano”.
1. Nem uma palavra sobre as dezenas de milhar de colombianos assassinados às mãos dos grupos para-militares de direita e de extrema-direita.
2. Nem uma palavra sobre os candidatos presidenciais assassinados de uma forma bárbara.
3. Nem uma palavra sobre os presidentes de câmara eleitos mortos.
4. Nem uma palavra sobre os autarcas eleitos assassinados.
5. Nem uma palavra sobre os dirigentes sindicais mortos.
6. Nem uma palavra sobre os sindicalistas assassinados.
7. Nem uma palavra sobre os dirigentes camponeses mortos.
8. Nem uma palavra sobre os dirigentes de associações e movimentos de cidadãos assassinados.
9. Nem uma palavra sobre os activistas do Partido Comunista Colombiano, de outros partidos e movimentos de esquerda e democráticos mortos.
10. OBJECTIVAMENTE, e sublinho OBJECTIVAMENTE, estamos perante a concepção proto fascista de que «todo o comunista (ou democrata) morto é um bom comunista (ou democrata)».
11. Estamos todos mais esclarecidos…
http://ocastendo.blogs.sapo.pt/42219.html
Não vos fazia nada mal lerem os dois artigos abaixo indicados. Sempre era uma forma de deixarem de pensar que todo o problema da Colômbia são as FARC. No que eu já não tenho esperança é que vocês tenham pena e solidariedade com os milhares de mortos como têm com a Ingrid que felizmente parece estar viva.
Em http://www.monde-diplomatique.fr/2005/05/CEPEDA_CASTRO/12196
VIE ET MORT DE L’UNION PATRIOTIQUE
COMMENT DES MILLIERS DE MILITANTS ONT ÉTÉ LIQUIDÉS EN COLOMBIE
En mai 1985, dans le cadre de négociations tentant d’apporter une solution au conflit armé dont souffre aujourd’hui encore la Colombie, naissait l’Union patriotique. L’extermination des membres de ce parti d’opposition explique en partie la durée et la cruauté de cette interminable tragédie : un contexte de démocratie formelle camouflant des techniques sophistiquées d’élimination systématique des opposants.
artigo de Iván Cepeda Castro (Chercheur en droits humains et droit humanitaire ; membre de la Fondation Manuel Cepeda-Vargas) e de Claudia Girón Ortiz (Chercheur en droits humains et droit humanitaire ; membre de la Fondation Manuel Cepeda-Vargas).
e aqui em http://www.monde-diplomatique.fr/2005/10/GUTIERREZ_M_/12835
LE CRIME ÉLEVÉ AU RANG DE SYMBOLE NATIONAL
IMPUNITÉ POUR LES PARAMILITAIRES COLOMBIENS
L’usage systématique de la terreur caractérise la stratégie paramilitaire en Colombie. Violemment critiquée, y compris par les nations unies, la loi de justice et de paix, approuvée le 21 juin 2005 dans le cadre de la « démobilisation » des escadrons de la mort, offre à ceux-ci une quasi-impunité et permet à leurs chefs de conserver les biens accumulés par la spoliation et le narcotrafic. Démobilisation ou légalisation ?
por Carlos Gutiérrez .
Leiam e depois vejam bem o que é que dá mais vontade de vomitar.
@ac: Não é obsessão nenhuma. Ingrid é apenas mais 1 caso. E, felizmente, ainda está viva. Mas existem muitos mais casos de pessoas raptadas e assassinadas. (ver http://www.youtube.com/watch?v=PSpJpn1Djqk).
Fala dos EUA e de Israel? Eu também critico quando acho que devo criticar estes e outros países. Condeno Guantano e as prisões nos países da Europa de Leste, por ex. Acima de tudo, sou democrata e tenho a LIBERDADE de criticar quando acho que as coisas estão mal, independentemente de quem as pratica. Não estou preso à moral hipócrita do PCP (nem de qualquer outro partido) como você parece estar. Infelizmente, o povo cubano, norte-coreano, chinês, tibetano e os que estão sob a alçada das FARC não podem dizer o mesmo...
Acho abjecto representantes das FARC pisarem solo português.
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