Como Roger Vailland matou o mito de Estaline ( I )

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O escritor Roger Vailland ( 1907 - 1965 ) adere à Resistência francesa em 1943 e as suas simpatias pelo bolchevismo ( diria pelo homem novo que seria o bolchevique ) levam-no a inscrever-se no Partido Comunista Francês em 1952. O XX Congresso do PCUS realizou-se de 14 a 25 de Fevereiro de 1956. Nikita Kruschev apresenta, no Congresso, o relatório sobre os crimes de Estaline ( 1878 - 1953 ). O mesmo é abafado pelos partidos comunistas ocidentais, em particular pelo PCF. Vailland tem conhecimento do mesmo em Paris mas desvaloriza-o e dirá mesmo que são calúnias. Visitará Moscovo em Maio desse ano. Essa visita será decisiva para o corte com o estalinismo e o abandono do P.C.F.. O que é bem demonstrado nas cartas que escreve à mulher Élisabeth ou nas suas notas pessoais do Diário Íntimo.

Dia 9 de Outubro passarão 40 anos sobre a morte de Che Guevara. Outro mito.

Matar dentro de nós mitos é complicado e quando o conseguimos é, a maioria das vezes, um processo doloroso. Foi o que se passou com Vailland em relação a Estaline. Por isso transcrevo dos seus "Escritos Íntimos - Volume 2 " ( Publicações Europa América ) parte do que escreveu sobre esse processo.

Carta a Élisabeth, num domingo à tarde em Abril de 1956 , de Praga onde tinha ido assistir ao Congresso dos Escritores Checoslovacos :

" Meu amor, meu amor, meu amor.

O congresso terminou.

Parto amanhã para Moscovo.

Junto alguns dos meus retratos na imprensa checa e eslovaca.Numa das fotografias, Narzim Hikmet, com quem travei uma grande amizade.

Impossível falar de outra coisa a não ser de política, mesmo com as raparigas. Quando regressar, farei oito dias de jardinagem, sem ver ninguém para além de ti, sem ler um jornal, sem ouvir rádio.

Meu amor, meu amor, meu amor, somos leões e verdadeiros bolcheviques, mas parece que isso começa a ficar fora de moda.

Vai ser preciso inventar qualquer coisa de singular para distrair a nossa velhice.

Beijo-te como te amo, ou seja como o Vesúvio e o Etna combinados.

Roger "

( continua )