Quando ouço Carvalho da Silva, recordo-me deste texto de Roger Vailland, escrito em 5 de Junho de 1956 , a propósito de um inquérito que o jornal comunista de Lyon, La République, tinha feito aos jovens leitores sobre a felicidade : Que pensa da felicidade ? Que seria a sua felicidade ?
(...) " Portanto, esta manhã e sonhando desta maneira, dei uma vista de olhos ao número «fora de série» de La République . Direcção : Felicidade.
Li :
Gérard ( dezasseis anos ) diz-nos :
Li :
Gérard ( dezasseis anos ) diz-nos :
« Estou a preparar o C.A.P. de caldeireiro no centro de aprendizagem da Escola de Ofícios de Lyon. O meu pai é cozinheiro; mas eu escolho o ofício de caldeireiro porque me agrada.
Quero ser operário qualificado, segeiro se possível, e trabalhar em França, de preferência numa região tranquila.
A felicidade ? Uma família, filhos, um emprego com um salário que permita viver à vontade.
De momento, trabalho no duro. Muitas vezes tenho de me deitar à meia-noite para estudar. »
Quase todas as respostas eram no mesmo tom. O mais ousado cedia em que a « escolha de uma profissão é a coisa mais importante da vida». Há todas as espécies de vocações.
Lothaire, o meu melhor amigo, antigo operário, antigo chefe da Resistência, deputado comunista, revolucionário profissional :
Lothaire, o meu melhor amigo, antigo operário, antigo chefe da Resistência, deputado comunista, revolucionário profissional :
- Tu combates - perguntei-lhe -, tu combates há trinta anos, incluindo as campanhas disciplinares e os anos de prisão ( a prisão, a universidade dos comunistas ), para que Gérard tenha « um bom emprego », uma boa mulherzinha e uns bons filhos « numa região tranquila ? »
- Estás a desconversar - respondeu-me Lothaire. - Devem abrir-se horizontes a Gérard. É o teu papel de escritor.
- Estás a desconversar - respondeu-me Lothaire. - Devem abrir-se horizontes a Gérard. É o teu papel de escritor.
- Quero « mudar a face do mundo ». Mas não levantarei nem um dedo por Gérard.
- Gérard não pode ter as perspectivas que tu tinhas na tua idade. Não tem culpa... "
( pág. 28/29 de "Escritos Íntimos - Vol 2 " de Roger Vailland da Europa-América )



Sem comentários:
Enviar um comentário