Saul Bellow
" Na loucura existe também uma representação, o projecto de um raciocínio mais profundo, o resultado do que sentimos diante de infinitos e eternidades. A loucura é um diagnóstico ou um veredicto de alguns dos nossos maiores doutores e génios e da sua decepção com os homens. Oh, o homem atordoado com as consequências dos poderes do homem ! E que fazer ? No que diz respeito ao histriónico, vejam por exemplo o que disse aquele furioso destruidor do mundo, Marx, quando insistiu que todas as revoluções tinham sido feitas por pessoas mascaradas, os cromwellianos mascarados de profetas do Antigo Testamento, os francesses de 1789 mascarados de romanos. Mas o proletariado, disse, declarou, afirmou, faria a primeira revolução não imitadora. Não precisava da droga da memória histórica. Não conhecendo, por pura ignorância, modelos, não tinha outro remédio senão fazer a coisa pura. No respeitante a originalidade, ele era tão frívolo quanto os outros. E só a classe trabalhadora era original. A história podia assim afastar-se da mera poesia. E a vida da humanidade seria impossivel de copiar. Ver-se-ia livres da arte. Oh, não. Não, isso não, pensou Sammler. "
( pág. 139 de "O Planeta do Sr. Sammler" de Saul Bellow da Texto Editores )


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