17/01/08

Quando não havia a ASAE


e eu era pequenino, lembro-me tão bem da excitação da minha mãe e das amigas quando decidiam vestir os seus melhores trapinhos , se enchiam de pó de arroz e pintavam com baton as beiças para irem almoçar, às tascas de Alcântara, um cozido à portuguesa e um copo de três, no meio da fumarada e dos escarros dos engenheiros e advogados que trabalhavam ali perto e estavam no intervalo do almoço. E ao fim da tarde lá iam comer uma sandes de coirato ou um prato de caracóis ( se fosse Verão ) e beberem uma imperial. As mais atrevidas, se o marido não andasse por ali, até puxavam de um cigarro e apagavam a beata no chão com o bico do sapato de salto alto. No meio de piropos e arrotos dos engenheiros e advogados, que faziam horas para não irem aturar as mulheres e crianças a chorar, aproveitavam esses momentos de lazer para dizerem que não havia direito dos trolhas ( que ainda os havia ) e dos operários da Lisnave ( que já os havia ) irem jantar ao Porto de Abrigo, ao Paris, à Solmar , ao Gambrinus ou ao Tavares. Umas invejosas. Outro tempos. Que saudades.

Ilustração : "Absinthe" de Degas

1 comentário:

Jorge Pinheiro disse...

Mas isto já foi mesmo à muito tempo. Agora até já são proibidas as varejeiras!