09/09/08

No centenário de Cesar Pavese

" Deste modo, durante muito tempo julguei que esta terra onde não nasci fosse tudo o que havia no mundo. Agora que vi realmente o mundo e que sei que é formado por tantas pequenas aldeias, não sei se em rapaz me enganava muito. Andei por terras e mares, como os rapazes do meu tempo andavam pelas festas da região e dançavam, bebiam, brigavam, traziam para casa o casaco e os punhos estragados. Cresce a uva e depois é vendida em Canelli; apanham-se os cogumelos que são levados para Alba. Aqui vive Nuto, meu amigo de Salto, que fornece prensas e dornas a todo o vale até Cano. Que quer isto dizer ? Ter uma terra quer dizer não estar só, saber que na gente, nas plantas, na terra, há qualquer coisa de nosso, que mesmo que estejamos ausentes espera por nós. Mas não é fácil estar tranquilo. Há um ano que sinto isso e sempre que posso dar um salto a Génova, foge-me das mãos. Estas coisas compreendem-se com o tempo e a experiência. Será possível que aos quarenta anos, e com todo o mundo que eu vi, não saiba ainda o que é a minha terra ?"
( pág 8 de "A Lua e as Fogueiras" nº 24 da Coleccção Mil Folhas do Público. Tradução de Manuel de Seabra )

( 0.09.1908 - 27.08.1950 )

1 comentário:

Anónimo disse...

Dedos ágeis.