14/04/09

Poetas anti-fascistas, arquitecta de bermudas ( e também anti-facista ) e os outros

O código de vestuário da Loja do Cidadão de Faro continua a ser tema. Não há anti-fascista que não se pronuncie sobre o mesmo.
Depois de Manuel Alegre, antes da Páscoa, dizer que " é uma coisa de cariz fascizante, totalitária, contra a liberdade individual ", hoje é a vez da arquitecta Helena Roseta contar , no "Público", a sua comovente história de quando apareceu de bermudas na Câmara de Cascais, quando era Presidente da mesma.
Penso que Manuel Alegre, na sua actividade solitária de escritor, nunca teve de chefiar pessoas numa empresa. Quanto à Arquitecta Roseta já não direi o mesmo. Foi Presidente de uma Câmara e bastonária de uma Ordem. A dos Arquitectos.
Eu, ao longo da minha vida profissional, tive várias vezes responsabilidades de chefia. No início, quando andava na ferrugem, o tema do código de vestuário estava resolvido por motivos óbvios. Como é natural quem trabalha num estaleiro naval, numa central térmica ou num estaleiro de montagem metalomecânica não lhe passa pela cabeça andar de bermudas, mini-saia ou calções...o fato de macaco é mais cómodo. E mais económico. Que isso de ter de trocar de mini-saia sempre que a mesma é queimada por um pingo de solda sai caro. Do que me livrei.
Depois exerci funções comerciais e aqui a coisa fia mais fino. Ao visitar um cliente, como deverei ir vestido ? À época a maioria das empresas não tinham um código de vestuário ( hoje não sei ). Deixava-se ao critério ou ao dito bom senso de cada um definir esse aspecto. Já percebi que no caso da arquitecta Helena Roseta, se ela tivesse sido minha colaboradora, arriscava-me a que aparecesse numa reunião com o Director de Compras do nosso principal cliente ( a quem facturavamos alguns centenas de milhar de euros ) de bermudas e sandálias...mesmo que estivessemos em pleno Inverno.
Na ausência de um código de vestuário como poderia eu dizer à Helena ( desculpe a confiança, mas agora depende de mim ) que não deveria ir assim vestida ? Ou seja, teria que ser completamente arbitrário e impor-lhe o meu padrão. Como é óbvio no dia seguinte a Comissão de Trabalhadores ( da qual a Helena seria membro ) e o Sindicato emitiriam um comunicado contra o autoritarismo do Director António P.
Se existisse um Código de Vestuário, a Helena, no momento da sua admissão, tomaria conhecimento do mesmo e saberia ao que vinha. Se não estivesse de acordo, tinha duas hipóteses : ou não assinava o contrato, ou assinando-o poderia posteriormente propor modificações ao mesmo.
Ou seja a existência do Código diminui as arbitariedades das chefias.
Nos meus tempos de ferrugem a maioria dos operários consumia bebidas alcoólicas no serviço. Estava autorizado uma quantidade mínima nos refeitórios, à hora das refeições. Mas todos, incluindo as chefias, sabiam das tascas clandestinas. E quem as tinha sempre fazia um dinheiro extra. Quando fui Chefe de Estaleiro, na montagem de uma caldeira ( vai para 22 anos ), até os soldadores ( para quem não saiba, convém que tenham a mão firme para que as soldaduras não fiquem com defeitos ) bebiam. O consultor do fornecedor, um escocês, disse-me : " António, isso lá na minha terra não é permitido ". Ao que eu respondi, tipo xico-esperto : " Pois, vocês preferem as bebedeiras colectivas às 6ª feiras à noite. Nós preferimos beber todos os dias com regularidade para manter o nível de álccol."
Hoje a regra de não beber bebidas alcoólicas está consagrada e há testes com regularidade.
Dir-me-ão : o consumo de álcool não tem nada a ver com mamas e mini-saias. Pois, pode ser que não tenha...mas também me lembro, já como Director Comercial, de ter ido a uma reunião com um eventual fornecedor de serviços para a empresa onde trabalhava, vai para 17 anos. Uma das funcionárias do dito fornecedor usava uma mini-saia. Sempre que cruzava as pernas...parecia a Sharon Stone no "Basic Instinct" ( agora que escrevo reparo que o filme é dessa época ) mas vá lá que usava cuecas . Se era para me seduzir e eventualmente lhe adjudicar o trabalho enganou-se. Distraiu-me de tal maneira que nem ouvi bem as vantagens da sua proposta. Na altura era um jovem. Se fosse hoje, já quase sexagenário e depravado, se calhar tinha-lhe adjudicado o trabalho à espera de umas contrapartidas
Chamem-me velho e reaccionário. Velho ainda não sou, vou a caminho e reaccionário se calhar sou. Chega a vez a todos. Ainda bem.
Já agora e para terminar, porque não perguntam a opinião às funcionárias e funcionários da Loja do Cidadão. E já agora aos utentes do serviço ? É que estou farto dos escribas oficiais e das reportagens de televisão que só ouvem um lado.

1 comentário:

Galeota disse...

A problemática da farpela...