21/10/09

Suspender e revogar

vão ser dos verbos mais conjugados pelos partidos da oposição e ainda alguns sindicatos no início desta legislatura.
Isto faz-me lembrar o período que trabalhei numa empresa multinacional de consultoria, de origem americana. Já lá vão uns bons 20 anos, como os que me lêem saberão. Tenho contado, no blogue, várias histórias dessa minha experiência profissional.
A empresa tinha um conjunto de procedimentos, os famosos S.O.P's ( Standard Operating Procedures ) que nós, os consultores, tinhamos de cumprir. Na prática eram um conjunto de regras que se aplicavam quer no funcionamento interno da empresa quer no relacionamento com os nossos clientes. Iam do famoso "dressing code " até aos relatórios semanais que tinhamos de enviar, por correio ( ainda não havia internet ), para os escritórios de Dublin. Os mesmos constavam de um manual que nos entregavam no 1º dia de trabalho e era relembrado e actualizado nas inumeras sessões de treino que tinhamos.
Para os consultores eram um verdadeiro "pain in the ass ". Desculpem, mas o inglês era a lingua oficial e dizer que era uma dor de cu fica mal.
Periodicamente eram alvo da nossa contestação e geralmente nas reuniões anuais da empresa aproveitavamos para nos queixarmos e tentavamos revogar/ suspender os ditos S.O.P's ou pelo menos alguns deles.
As ditas reuniões contavam com a presença do presidente ( e proprietário ), o recentemente falecido James B. Irwin ( JBI na gíria ), que calmamente ouvia as nossas reclamações e desejos. Normalmente sentado ao fundo da sala deixava-nos falar abertamente. Tomava notas. Fazia perguntas. Esclarecia dúvidas. No fim resumia as nossas queixas e dizia quem devia constituir uma comissão para lhe propor as alterações reivindicadas. E fechava a reunião dizendo :
" Fico então à espera que a comissão apresente, na próxima reunião, as vossas propostas. Até lá os actuais S.O.P.'s continuam em vigor."
Como é óbvio na reunião seguinte a dita comissão não apresentava propostas nenhumas, fosse por falta de tempo fosse por falta de ideias. A maioria das vezes por falta de ideias.
Fiquemos então à espera das propostas dos partidos da oposição antes de se suspender ou revogar o que quer que seja.
Revogar e suspender é tão fácil.
Vá, senhores deputados, usem o cérebro.

2 comentários:

Pedro disse...

Na situação em causa o JBI não faz falta nenhuma.
Enquanto os partidos do Gov ou da oposição, desta colheita, da anterior ou da futura não forem completamente limpos dos interesses pessoais ou corporativos, enquanto a justiça não for desgovertamentalizada, operacional e justa, todas as discussões, eleições e outras locubrações políticas não passam de uma imensa peça teatral lementavelmente de consequências funestas para o País. São fungos e bolores autofágicos (mesmo sem a ajuda do JBI) que impermeabilizam o solo impedindo o crescimento de qualquer ideia realmente desinteressada e construtiva (... longo comentário).

António P. disse...

Longo mas sempre bem vindo, Pedro