A Introdução I data de Março de 1974 e dizia :
" No nosso Pais, a informação política atinge as largas massas da população duma forma que oscila entre aquilo que os orgãos controlados pelo governo e pelos interesses duma pequena minoria dizem e aquilo que nos períodos eleitorais, os períodos da «política», os candidatos da oposição tradicional exprimem através dos seus programas e discursos.
Assim como a política não se faz apenas de quatro em quatro anos, também à volta dos períodos eleitorais não se faz só a política expressa pelos intervenientes directos no processo eleitoral.
O período eleitoral que culminou em Outubro de 73 representous ao nível da ANP a mera arepetição daquilo que o Presidente do Conselho tinha dito anteriormente, e ao nível da «Oposição Democrática» ( que se têm exprimido nomeadamente em «Opinião», «Notícias da Amadora», «República» ) representou em certos aspectos importantes um recuo em relação à actuação da CDE de Lisboa em 1969, embora tal recuo possa ter sido iludido pelo tom de alguns discursos finais.
Não há dúvida porém que revestiu aspectos novos, como sejam o aparecimento político ( ou primeira tentativa de aparecimento ) daqueles que a si próprios se intitularam de «terceira força» e que embora não apresentando candidaturas não perderam a oportunidade de exprimir as suas posições ( nomeadamente através do «Expresso» ) e, por outro lado, o abandono da CDE por democratas que a si próprios se definiam como não-reformistas e que, tendo demarcado as suas posições a partir das condições políticas que se geraram no seio da oposição após a intervnçaõ eleitoral de 69, vieram agora a tomar tal atitude que, entretanto, se concretizou em texto intitulado «Poque saímos da CDE», então divulgado.
Todos estes sectores tiveram oportunidade de divulgar melhor ou pior as suas análises da realidade nacional e as respectivas propostas de intervenção, mas já o mesmo se não passou com outras análises e propostas, surgidas no mesmo processo, e que todavia são importantes por parecerem significar que uma vontade nova surge no seio de camadas trabalhadoras e de sectores da juventude para deixarem de ser espectacdores de uma intervenção política quadrienal e passarem a ser actores de uma política quotidiana.
O propósito deste pequeno volume é pois o de dar a conhecer ao País alguns textos que, tendo sido publicados naquele período e tendo chegado então ao nosso conhecimento, não tiveram porém a divulgação que a sua importância justificaria.
Escusado será referir que não pensamos que fiquem assim colmatadas as necessidades de informação política correcta e esperamos que outras pessoas, porventura até em melhores condições , tomem iniciaticas semelhantes.
Por último, desejamos deixar claro que esta selecção não representa plena adesão ao que os textos a seguir apresentados exprimem, mas sim o reconhecimento da importância dos mesmso para a análise da realidade nacional.
Por atribulações várias, só decorridos alguns meses nos é possível levar a cabo este nosso projecto, o qual por esse motivo poderá parecer menos interessante. Porém, características da actual conjuntura do País, em que assume relevo a intervenção do General Spínola através do seu livro «Portugal e o Futuro», anunciando porventura uma maior acutilância da «terceira força» no xadrês político do País, demonstram que também se faz política fora dos períodos eleitorais e talvez de maneira que mais influencie efectivamente o futuro do País."
O livro saiu para as bancas em Junho de 1974 e com uma Introdução II, datada de Maio de 1974, que dizia :
" Este livro encontrava-se pronto para sair antes do 25 de Abril. Os promotores desta edição consideram, no entanto, dever trazê-la na mesma a público. Pois embora algo se tenha modificado na situação portuguesa, os documentos que adiante se publicam e que foram documentos de intervenção continuam actuais.
Com efeito, eles apontam, como se dizia na primeira introdução, para uma intervenção política de todos os dias e em todos os locais, que os acontecimentos entretanto ocorridos vieram mostar ser indespensável. Nesse sentido, aliás, as palavras contidas na primeira introdução, apontando para a necessidade de romper com o ciclo vicioso duma política quadrianual, nomeadamente no exemplo concreto utilizado para mostrar que a política se todos os dias - o livro do General Spínola - vieram a ser confirmados pelos acontecimentos que entretanto têm vindo a ter lugar.
Por outro lado, parece-nos deste modo perfeitamente actual a divulgação destes e doutros documentos por esta forma, já que se a censura acabou, nem todas as iniciativas políticas obtêm da imprensa a mesma divulgação."
Subscreviam ambas as introduções : Agostinho Roseta, António Rosas, António Santos Júnior, Augusto Mateus, Edilberto Moço, Francisco Farrica, Jerónimo Franco, Jorge Sampaio, Marcolino Abrantes, Paulo Bárcia e Vítor Wengorovius.
À data de saída do livro já o Movimento de Esquerda Socialista ( M.E.S.) estava constituido. Os subscritores fizeram parte da sua Comissão Organizadora.
Nota : o livro tem 113 páginas e foi editado pela Afrontamento. Além das duas introduções mencionadas é constituido por mais 14 textos : O Capitalismo português na sua fase actual ; Exploração capitalista e luta económica da classe operária; Repressão capitalista e organização de classe; Luta Sindical e contratação colectiva em Portugal - suas limitações ; Algumas notas de discussão àcerca das horas extraordinárias ; Acerca da Previdência ; As questões urbanas. Lutas sociais e cidade capitalista; Notas sobre a questão escolar e estudantil; Lições de uma luta : TAP - Julho 73 ; Contra os despedimentos e a repressão capitalista; Declaração de princípios; Declaração; Proposta e Documento.
2 comentários:
Excelente lembrança, que faz parte da história da Luta por Democracia e Progresso....!
,,,os Lutadores foram diversos, por vezes esquecidos.....
Força !
zc.
bicada4 .
Obrigada. O presente e o futuro continua a construir-se com a contribuição de todos.
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