05/04/10

Quando necessitavamos de um corta-papel para ler

Aqui há umas semanas, numa manhã de sábado, comprei um livro do Saul Bellow na Feira de Velharias de Estremoz.
Foi este :


Estava como novo. E por 3 euros não hesitei.

Na ficha técnica do livro não consta a data da edição.

O original em inglês, " Henderson the Rain King", foi escrito em 1959. Pelo que posso presumir que a edição portuguesa será do início dos anos 60, do século passado. Os livros da "Colecção Dois Mundos", da editora Livros do Brasil, eram, nesse tempo, feitos com as folhas "fechadas", ou seja é necessário um corta-papel para ir lendo o livro. A sequência do corte é : um corte no topo superior que separa 4 folhas, seguida de outro corte no topo superior que separa as 4 folhas seguintes ao qual se seguem dois cortes, agora laterais, para separar duas folhas uma da outra.


Possivelmente o primeiro proprietário do livro terá pensado que era corte a mais e não se deu à maçada de ir abrindo o livro. Comprei-o só com as primeiras quatro folhas abertas por um qualquer cortante ( canivete, faca ou um vulgar corta-papel). Daí dizer que o comprei como novo.
O livro terá sido comprado em Tomar e curiosamente quem o fez teve o cuidado de o carimbar, no canto superior direito da 1ª página, com uma imagem de uma mulher que lê um livro. Terá sido uma mulher a sua primeira proprietária ? Fosse homem ou mulher não o chegou a ler.

Já me equipei com um corta-papel e comecei a ler "Henderson o Rei da Chuva " há dois dias.

O primeiro proprietário ou proprietária não sabe o que perdeu.

Nota : a tradução é de João Palma-Ferreira e a capa de Infante do Carmo.

2 comentários:

Galeota disse...

No tempo, em que a Vida não podia ser um livro aberto.

Fernando Frazão disse...

Por acaso eu já li o livro, numa edição mais recente e achei do mais desinteressante de Saul Bellow.
Note-se que o epíteto de "desinteressante" está em relação directa com o autor. Quande este levanta a fasquia a um nível superior é sempre possível ficar, no fim, com alguma frustação.