07/09/11

E de repente é tudo manso ou o silêncio dos (não) inocentes

De 2005 a 5 de Junho de 2011 fomos um país de valentões.
Ele era manifestações de centenas de milhares, ele era comissões de inquérito parlamentar sobre os eventuais desmandos do vilão que nos governava, ele eram os deolindos, os à rasca, os magistrados, as professorinhas indignadas, mais os acampados, tudo servia para vir para a rua gritar, reclamar e pedir a demissão de tudo o que fosse governante.
 Lembram-se dos ovos atirados a ministros ? E da demissão do ministro Correia de Campos por causa de ambulâncias e partos nas mesmas ? (Hoje corta-se nos transplantes e...silêncio sepulcral, nem o indignado Cavaco Silva tuge !! ). E das esperas a dirigentes partidários à porta de sedes ou comícios, ainda se lembram ?
De certeza que se lembram.
Agora curiosamente, ou não, está tudo manso. Ficaram roucos ? Gastaram o stock de ovos ? Não têm dinheiro para virem a manifestações ?
Não, não é por causa disso que estão mansos. Estão mansos porque foram cúmplices da situação criada.
Que a direita, matreira, tenha calvagado a onda de protesto (??) da esquerda da esquerda ( seja lá o que isso for ) não me surpreende. Mas que essa esquerda, que andou de braço dado com essa direita ( lembram-se deles todos juntos na manifestação de professores, a 8 de Março de 2008, à frente da sede do PCP, na Av. da Liberdade, em Lisboa ?), esteja calada já é mais surpreendente. Ou talvez não.
É que na prática todos diziam o mesmo : a culpa da situação do país era de um homem, José Sócrates. Bastava correr com ele que tudo ficaria resolvido. E foi corrido, através de eleições democráticas. Bendita democracia. Mas a esquerda da esquerda ficou reduzida e a direita ganhou. Os amanhãs radiosos ficaram adiados e como não há almoços grátis... a esquerda da esquerda anda agora a pagar os almoços da direita. Com quê ? Com o silêncio. Com a incapacidade de perceberem que levaram as pessoas à exaustão com processos de luta descabelados e sem pretenderem negociar o que quer que fosse.
Agora as medidas que nos confiscam o 13º mês, que reduzem a qualidade dos serviços do Estado, que aumentam os impostos, são diárias....mas é tempo de calar, enquanto a comunicação social nos vende vaselina para que a penetração seja menos dolorosa.
É comovente ver, nos telejornais, professores que ontem ladravam e que hoje, face à suspensão das obras de requalificação das escolas, dizem que lá se desenrascarão e conseguirão garantir a qualidade do ensino mesmo que chova nas salas de aula  ( tão cooperantes que eles estão). Como comovente é ter deixado de ver e ouvir o sucessor de António Cluny, o bravo João Palma que ia fazer queixinhas ao Presidente da República aqui atrasado, etc, etc
Se a isto juntarmos um António José Seguro que surfou, em certos momentos,  essa onda tão bem aproveitada pela direita e que até à data não dá sinais de ter um discurso com propostas alternativas e claras, dá-me ideia que os verdadeiros inocentes (os cidadãos que se levantam todos os dias para fazerem pela vida ) continuarão a ser degolados.
O carniceiro é Pedro Passos Coelho mas o gajo que pôe o carapuço ao degolado é Francisco Louçã, ou Jerónimo de Sousa, ou Mário Nogueira...you mention it.
Para estes, recordo que a velha máxima " o inimigo do meu inimigo meu amigo é", já no passado se tinha revelado falaciosa. Porque continuam a acreditar nela ?

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