01/06/14

Carta aberta a Alberto Martins

Caro Alberto Martins,
Em 1969 tomaste uma posição política de coragem (com custos pessoais), aquando da visita de Américo Thomaz a Coimbra, que contribuiu para que me juntasse ao movimento estudantil anti-fascista aqui em Lisboa, no IST. A tua coragem ajudou-me e estou-te grato por isso.
Mais tarde, já depois do 25 de Abril de 1974, havíamos de nos cruzar no Movimento de Esquerda Socialista (MES). Não te lembrarás de mim. Sou mais novo (para aí uns 8 anos) e fui apenas um militante de base e depois dessa experiência nunca mais militei em nenhum partido político.
Mantive-me, no entanto, atento à vida política e, com as minhas limitações, participei sempre que possível em iniciativas ou manifestações contra as injustiças nacionais e internacionais.
Durante anos votei branco.
Com a adesão ao Partido Socialista de muitos ex-militantes e dirigente do MES (como tu) comecei a votar no PS. Não me lembro exactamente desde quando.
Os tempos não têm sido fáceis para a maioria da população portuguesa e aprecio quem, como tu, mantém a sua militância e ocupa cargos dirigentes e, mais importante, é deputado num tempo em que é fácil dizer mal dos políticos.
Para um mero votante do PS é difícil perceber a evolução do partido.
O resultado do PS nas últimas eleições europeias foram, para mim, uma decepção.
Após a tomada de posição de António Costa sempre acreditei que o actual Secretário Geral (António José Seguro) aceitasse o desafio e fosse à luta, penso que era o sentir da maioria dos simpatizantes do PS que conheço.
António José Seguro assim não o quis. Pensei, no entanto, que outros dirigentes (como tu) conseguissem convencê-lo a mudar de ideias e que da reunião da Comissão Política, ontem realizada, saísse uma decisão para a realização de um congresso e eleições para Secretário Geral, que permitisse a cada um dos candidatos apresentar as suas ideias e assim contribuir para que a política passasse à frente das minuências estatutárias.
Esperava isso de ti, pelo teu passado, pela tua experiência, pela tua lucidez e por pensar que preferias a luta de ideias, como no passado, à intriga do aparelho.
Enganei-me, mas continuo a respeitar-te pelo teu passado.
E, caso o PS siga a via agora escolhida, possivelmente deixarei de votar no PS. Será só um voto, dirás tu, mas por um voto se perde ou se ganha, como disse a direcção do PS.
Um abraço,
António Pais

1 comentário:

JorgeMp disse...

Inteiramente de acordo. Parece incrível como figuras proeminentes do PS alinham com esta golpada e impedem uma clarificação. Tenhamos esperança.