Reli o livro há umas semanas.
Foi como se o tivesse lido pela 1ª vez, ou seja, continuo fascinado.
O capítulo 3 é dedicado a um cágado e não resisto a transcrever o último parágrafo:
"Depois surgiu um caminhão ligeiro, e, ao aproximar-se, o motorista, vendo o cágado, desviou-se, no intuito de o atropelar. A roda da frente apanhou a orla da concha, atirou com o animal ao ar com a rapidez de um relâmpago e fê-lo rodopiar, como se fosse uma moeda, para fora da estrada. O caminhão manobrou, a fim de retomar a direita. Deitado de costas, o cágado manteve-se muito tempo dentro da concha. Mas, por fim, as pernas oscilaram no ar, à procura de uma coisa onde pudessem firmar-se. O pé dianteiro agarrou-se a um pedaço de quartzo e, pouco a pouco, o cágado conseguiu voltar-se. O pé de aveia brava desprendeu-se, deixando cair no chão três sementes. E, ao arrastar-se na descida da colina, a concha foi carreando estrume para as sementes. Depois, entrou numa estrada poeirenta, saracoteando-se e desenhando com a com a concha um trilho ondulado na poeira. Os olhos trocistas e experientes olharam em frente e boca, couraçada, abriu-se um pouco. Os dedos amarelos das patas soltaram uma camada de pó."
( in Colecção Mil Folhas, tradução de Virgínia Motta)
Terá John Steinbeck sido, noutra encarnação, um cágado?
Capa da 1ª edição
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