08/07/15

O liberalismo (Ortega y gasset)

"O liberalismo é o princípio de direito político segundo o qual o poder público, sendo não obstante omnipresente, se limita a si mesmo e procura, mesmo à sua custa, deixar lugar no estado em que ele impera para que possam viver os que nem pensam nem sente como ele, isto é, como os mais fortes, como a maioria. O liberalismo - convém recordar isto hoje - é a suprema generosidade: é o direito que a maioria outorga às minorias e é, portanto, o grito mais nobre que soou no planeta. Proclama a decisão de conviver com o inimigo; mais ainda, com o inimigo débil. Era inverosímil que a espécie humana tivesse chegado a uma coisa tão bonita, tão paradoxal, tão elegante, tão acrobática, tão antinatural. Por isso, não deve surpreender que essa mesma espécie pareça prontamente resolvida a abandoná-la. É um exercício demasiado difícil e complicado para que se consolide na terra.
Conviver com o inimigo! Governar com a oposição! Semelhante ternura não começa a ser já incompatível? Nada acusa com maior clareza a fisionomia do presente como o facto de irem sendo tão poucos os países onde existe a oposição. Em quase todos, uma massa homogénea pesa sobre o poder público e esmaga e aniquila todo o grupo opositor. A massa - quem o diria ao ver o seu aspecto compacto e multitudinário? - não deseja a convivência com o que não é dela. Tem ódio de morte ao que não é ela."
(in a "Rebelião das Massas", pág. 87 na edição da Relógio d'Água)

Relembro, uma vez mais, a 1ª edição do livro de Ortega Y Gasset é de 1930!

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