Para quem gosta de ler e de futebol ( o que é possível ! ) aqui deixo três sugestões de leitura. Infelizmente de autores que já não estão entre nós.
De Nelson Rodrigues, brasileiro de Pernambuco (1912-1980) : um conjunto de crónicas de 26.11.1955 a 22.06.1970 publicadas na "Manchete Esportiva" e no "Globo". Cobrem o período do tri do escrete...e são uma delicía ! Mesmo para quem não tenha visto o "seu" Manuel ( vulgo GARRINCHA ) jogar, de certeza que ao ler...:
"Amigos, estou diante de um problema que é o seguinte : - Garrincha foi, há pouco tempo, meu personagem da semana. Poderei repeti-lo sem irritar os leitores ? Eis a verdade, porém : - não se trata de escolher, de optar. Ontem, só houve em campo um nome, uma figura, um show : - Garrincha. Os outros três campeões do mundo estavam lá também. Mas Didi, Zagalo e Nilton Santos pertencem à miserável condição humana. São mortais e suscetíveis de todas as contingências da carne e da alma. Jogaram por honra da firma e por um dever contratual. estavam exaustos e no extremo limite das suas resistências emocionais e atléticas. Garrincha, não. Garrincha está acima do bem e do mal."
( pág. 62 sobre um Botafogo 2 x 1 Fluminense a 10.07.1958 ou seja 10 dias depois da final do Mundial da Suécia, que o Barsil ganhou )
...consegue perceber como jogava o "seu" Manuel !!!
De Camilo José Cela, espanhol da Galiza (1916-2002) e prémio Nobel em 1989, 11 contos surreais/ fantásticos sobre (?!) futebol. Foram escritos em 1963. Não resisto a transcrever parte do último ( pág. 87 ) :
"Várias centenas de milhar de espanhóis, se calhar vários milhares de milhares, saem à segunda-feira precipitadamente de suas casas, atropelando os velhos e sem se despedirem da mulher e dos filhos, até mesmo sem tomar o pequemo-almoço sequer e sem se lavarem, para caçar a tempo o cobiçado passarinho a que chamam Hoja del Lunes ( com o resultado dos jogos de futebol ), o pasto espiritual que há-de servir-lhes de sustento durante toda a semana. Depois, quando confirmam o que já ouviram na rádio e viram com os próprios olhos que a terra há-de comer, na televisão (isto é, que só acertaram sete resultados), vão, arrastando dissimuladamente os pés, até ao escritório, para comentar os acontecimentos da jornada."
De Fernando Assis Pacheco, português de Coimbra (1937-1995) , os 30 capítulos publicados no Record, aos sábados , sem qualquer interrupção entre 22 de Abril e 25 de Novembro de 1972 ( da Nota Introdutória ao livro de Abel Barros Baptista ). Trinta preciosidades ! Só pelos títulos de cada conto vale a pena comprar o livro. Destaco o da pág. 27 :
" De como um tio me levou ao Académica-Benfica e eu bati palmas a um golo do Teixeira, sem saber que era gaffe"
...já estão a ver o que se terá passado !
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