Desta vez é o poeta sírio Adonis ( Ali Ahmad Said Esber, nascido em 1930 na aldeia de Al-Kassabin, no norte da Síria ).
( foto de Vasco Célio in "Mil Folhas" )
Vale a pena ler a entrevista de Alexandra Lucas Coelho ao poeta no "Mil follhas" de dia 3 de Junho. Como o "Público" na net é só para assinantes, retiro três passagens da entrevista :
- " Uma vez disse a um amigo judeu, poeta : temos dois problemas essenciais. O primeiro é político, e isso vai-se resolver um dia ou outro, talvez dure bastante, mas vai resolver-se. O outro problema é o religioso. Todos os vossos profetas são os nossos, o vosso deus é o nosso - com uma diferença, vocês, judeus podem criticar Moisés, mas nós, muçulumanos, não podemos dizer uma palavra sobre seja qual for o profeta. Portanto, vocês ainda vão descobrir daqui a uns tempos, que o livro que guarda realmente o judaísmo não é a Bíblia, mas o Corão..."
- " Se fizermos a comparação entre o estado actual do mundo árabe e a sua história podemos dizer que não há grandes pensadores no interior da fé muçulumana, como havia. Podemos encontrar pensadores nasidos na sociedade muçulumana que são livres. Mas esses, a partir do momento em que repensam um problema no islão são condenados, como Nasser Hamid Abu Zeid. Mas não encontra no centro do islão qualquer pensador. Mais, diríamos que o islão fundamentalista detesta tudo o que é criatividade np domínio das artes : nada de pintura, de escultura, de poesia."
Referindo-se aos anos 50 e às experiências árabes nacionalistas, nomedamente a de Nasser diz :
- " Nesse período a religião ideologizou-se. Transformámos a fé em ideologia. Aqueles que fundaram tudo o que é religioso foram influenciados pela esquerda. Tentaram transmitir a visão de esquerda à religião, de criar forças à base de fé, que pudessem transformar a sociedade num sentido religioso."
É preciso a lucidez e a luminosidade de um poeta para ouvir uma voz árabe que critica sem rodeios o que se passa hoje nas sociedades muçulumanas. A ler sem hesitações !
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