02/07/07

Despedimento olhos nos olhos

A primeira vez que despedi alguém foi há 19 anos. Em Valência. Quando trabalhava numa empresa multinacional de consultoria. Foi numa 6ª feira à tarde. Numa reunião com um colaborador de nacionalidade espanhola. Olhos nos olhos expliquei-lhe os motivos. Ele aceitou-os e nesse dia o contrato estava terminado.
Custou-me fazê-lo. Seja pela formação que tive seja pelos preconceitos que essa mesma formação induzia na minha atitude relativamente às relações laborais, direitos dos trabalhadores, etc.
No entanto sabia que tinha que o fazer. As regras e procedimentos eram conhecidos de todos quando assinavam o contrato com a empresa... assim como as consequências.
O processo de selecção de colaboradores era feito por etapas e quando chegava o momento de contratá-los um responsável explicava :
- O que era a empresa.
- O que fazíamos.
- O que esperavamos da pessoa em causa.
- O processo de promoções e avaliação.
- O código de conduta em relação ao cliente ( que incluia um "dressing code" ).
Depois perguntava-se à pessoa se tinha percebido e se tinha dúvidas . Só depois de todas as dúvidas esclarecidas o contrato era assinado e entregava-se ao agora já colaborador o manual com os pontos atrás referidos.
Uma das regras era que "nenhum consultor poderia beber bebidas alcoólicas enquanto estivesse nas instalações do cliente."
Neste caso concreto tinha sido eu a fazer a admissão, umas semanas antes dessa 6ª feira, como tal fui eu que lhe expliquei as regras. Ele aceitou e assinou o contrato.
Fomos destacados para um projecto na zona de Valência. Ele fazia parte da equipa.Eu era o director do projecto. Na primeira 6ª feira encontrei-o a beber uma cerveja na cantina do cliente. Esperei que o dia acabasse e a caminho do aeroporto relembrei-lhe a regra de "não beber álcool nas instalações do cliente". Disse-me que estava muito cansado e que lhe apeteceu beber uma cerveja mas que não o voltaria a fazer.
Disse-lhe que esperava que tal não se repetisse e que contava com ele para a próxima semana.
Na 2ª feira voltámos às instalações do cliente para continuar o trabalho iniciado na semana anterior.
Infelizmente na 6ª feira seguinte, a cena de beber uma cerveja repetiu-se. Só que desta vez eu não tinha alternativa. O despedimento foi concretizado.
Uns anos mais tarde encontrei-o num aeroporto. Conversámos e não havia ressentimentos porque :
" Eu conhecia as regras e as consequências se as violasse." - disse-me ele.

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