25/03/08

Os rascas e os betinhos

Os rascas nunca existiram antes de nós. São sempre os nosso filhos ou os amigos. Aparecem sempre uma geração ( ou geração e meia ) depois da nossa. Esquecemo-nos é que os nosso pais ( e a sua geração ) diziam o mesmo de nós quando eramos adolescentes.
A rasquice ou paneleirice ( ainda não havia gays ) que era usar cabelo comprido ( os guedelhudos ). E se vestissemos umas camisas às flores com calças à boca de sino, era a excomunhão. E as miúdas de mini saia ? Até se viam as cuecas para tristeza ( ou não ?! ) dos bons chefes de familía. Ouviam insultos públicos ou levavam mesmo umas bengaladas dos velhos que as usavam ( às bengalas ). E quando fumámos os primeiros charros ? E as brutas marmeladas em público, para escândalo das mães, tias e professores ? Se fosse no liceu dava direito a punição. Para os nossos pais e professores eramos a geração perdida que nunca havia de chegar a lado nenhum. Ir à boleia para o Algarve e acampar à balda com companhias pouco recomendaveis era a variante de Verão do deboche do ano lectivo. Depois quando entrámos nas universidades e alguns de nós nos metemos nas associações de estudantes e/ou organizações políticas clandestinas ( a famosa política ) foi a confirmação de que não tinhamos futuro. Estavamos perdidos. Fomos a geração da " Droga, loucura e morte ", como diziam os cartazes que Marcelo Caetano mandou colar pelo país todo, em Junho de 1972.
Como é óbvio não eramos todos assim. Havia também os betinhos, ou copos de leite ou ainda os meninos da mamã, vulgo os bem comportados que nos chamavam indisciplinados, hippies, revolucionários, etc dependente da cartilha paternal.
Que os betinhos de ontem digam que a escola de então era exemplar e só havia bons professores e alunos disciplinados ainda compreendo. Quem nasce betinho morre betinho. Agora que os rascas de então façam a apologia dessa escola e desse ensino já me faz mais impressão, para ser meigo.
Convém ter memória, até porque ela permitirá lidar de uma forma adequada com a actual indisciplina dos adolescentes, sabendo que vivemos num estado democrático pelo qual muitos de nós lutámos.
Quanto aos betinhos que andam hoje muito escandalizados com a actual indisciplina escolar recordo que nesse tempo não se escandalizaram nem com as arbitrariedades das autoridades escolares e académicas nem com o estado autoritário e de partido único em que vivíamos. Pois! Agora , ser anti-fascista e betinho em 2008 é fácil.
Mas pior espécie são os rascas de então transformados em betinhos aos 50 anos. Poupem-me.

2 comentários:

PDuarte disse...

Nem a turma mais maoista dos anos 70 fazia uma cena daquelas.
Eles faziam frente ao sistema por uma causa, errada ou não.
Hoje humilha-se um professor por um conjunto de circuitos integrados.
É muito pouco. É muito baixo.
E olha que eu posso ser muito rasca, mas estou muito longe de ser betinho.
Não querendo parecer bota-de-elastico, acho que a coisa caiu muito depressa.
Um abraço.

Jorge Pinheiro disse...

Um entre muitos episódios. No Liceu de Oeiras, em 65, houve uma turma que levou pedras de calçada para a última aula do fim da tarde (no Inverno, já era noite), o aluno da frente fechava a luz e os de trás arremessavam pedras sucessivamente, impedindo o professor de sair do estrado. Tudo gratuiti, tudo perfeitamente planeado e premeditado. Não sei se eram betinhos, rascas ou maoístas. A verdade é que foram todos expulsos e passaram a ídolos. Era assim naqueles tempos pré-hippies.