Vai para dois anos que deixei de viver numa grande cidade. Lisboa. Vivo nas proximidades de uma pacata vila alentejana. Dos ruidos urbanos, sobra o dos camiões que circulam na E.N. que passa ao meu portão. Reaprendi a ouvir os pássaros, os grilos, os cães, as ovelhas e mesmo as rãs que ouvia nas minhas férias liceais quando ia para a quinta da minha avó materna, Odette, ali para os lados de Coimbra. Estou a aprender a apreciar o silêncio que interrompe, por vezes, o falar da natureza. Vou-me esquecendo do rosnar humano. Só o recebo através de ondas hertzianas e essas posso controlá-las. Basta carregar num botão.
Esta madrugada, não sei que horas seriam, acordei sobressaltado. O silêncio era total. Nem o falar de algum animal. Nem um camião. Nem mesmo o vento. Foi o silêncio total. Voltei a adormecer.
Ao acordar e depois do pequeno almoço consulto os jornais no computador. Leio que morreu o cubano Orlando Zapata Tamayo.Tinha 42 anos. Estava em greve da fome há 85 dias. Tinha sido condenado, em 2003, a 18 anos de prisão. Era considerado um "prisioneiro de consciência". Lutava pacíficamente contra o regime castrista. Morreu num hospital. Um dia triste.
E morre num dia em que o Presidente do Brasil, Lula da Silva, inicia uma visita a Cuba. O sempre palavroso e ruidoso Lula vai ficar silencioso. É mais fácil levantar a voz em democracia. Um silêncio criminoso.
3 comentários:
Um silêncio execrável.
É!
:(
Muito bem, António
Abraço
Miguel Teotónio Pereira
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