24/11/10

Greve Geral : momento de luta ou de reflexão ?

A maioria das greves sectoriais dos últimos anos têm sido no funcionalismo público ou no sector empresarial do Estado. Professores. Funcionários da Administração Pública, central ou local. Enfermeiros. Trabalhadores das empresas de Transportes. Não me lembro de greves significativas nos chamados sectores operários ou de serviços, como os Seguros ou a Banca. Sinais dos tempos ? Não sei. Apenas constato um facto.
Por isso, quando surge uma Greve Geral como resposta global e imediata contra medidas que afectam todos, mas são mais gravosas  para o funcionalismo público, no que ao corte de salários diz respeito, fico com a sensação que se está a cumprir um ritual decretado pelas direcções sindicais e não a algo que surge de um movimento amplo dos vários sectores que são afectados pela crise ( e será que são todos afectados ? Parece que vai haver aumentos salariais em empresas privadas. Ainda bem ).
Essa sensação é reforçada pelo facto de verificar que esses dirigentes sindicais o são há séculos. Ou seja não tem havido renovação nas estruturas sindicais. Carvalho da Silva está lá vai para 30 anos. João Proença há menos, mas mostrando o mesmo cansaço e incapacidade de apresentar propostas novas.  Que outros dirigentes sindicais têm aparecido ao longo dos últimos anos ? Mário Nogueira , dos profesores que estará a fazer estágio para secretário geral da CGTP, já que suponho que o juiz António Martins não poderá concorrer ao cargo. Talvez João Palma, do sindicato dos Magistrados do Ministério Público, lhe faça sombra.
E assim estamos. Tudo pessoal de fato e gravata. Agora os de fato de macaco é que não descubro nem um.
Se acresentarmos a estes "pormenores" o facto de muitos desses dirigentes serem miltantes do P.C.P. ( estão no seu direito e acho muito bem ), partido  que se revê em modelos de sociedade como o cubano, o chinês e mesmo o norte-coreano, fico ainda mais céptico sobre os resultados da Greve Geral.
A greve é um direito consagrado na Constituição da República. Por isso encaro com naturalidade a Greve Geral de 24 de Novembro. Respeito aqueles que se recusam a ficar de braços cruzados mesmo que optem por formas de luta que me parecem ser mais um ritual do que um processo de encontrar alternativas às actuais dificuldades do modelo de Estado Social Europeu.
Hoje, ouviremos gritar : " A luta continua. " , e o dia não será dado a reflexões mas mais a emoções.
Espero, no entanto, que no dia seguinte muitos ( ou pelo menos alguns ) também questionem o actual estado do movimento sindical e das respectivas estruturas dirigentes.

1 comentário:

Galeota disse...

"...Mudou somente o púlpito e o auditório, mas não desistiu da doutrina. Deixa as praças, vai-se às praias;deixa a terra, vai-se ao mar, e começa a dizer a altas vozes:"Já que me não querem ouvir os homens , ouçam-me os peixes." Oh, maravilhas do Altíssimo!Oh, poderes do que criou o mar e a terra!Começam a ferver as ondas, começam a concorrer os peixes, os grandes, os maiores, os pequenos;e, postos todos por sua ordem com as cabeças de fora da água, António pregava e eles ouviam!"

in Padre António Vieira- IV Centenário(1608-2008)-Sermões,Cartas, Obras Várias.TUPAM editores, Lda-Lisboa, 2008