A noção de voto útil nunca me foi simpática. Entre dois males votar no menor não é muito estimulante...intelectualmente.
Num passado já longínquo ( estou a ficar velho ) votei convictamente branco durante alguns anos e em vários actos eleitorais.
Depois deixei-me disso e passei a votar Partido Socialista e nos candidatos presidenciais apoiados pelo partido, a partir de Jorge Sampaio. Com mais ou menos convicção...mas lembrando-me sempre de Alexandre O'Neil : "Ele não merece, mas vota no PS".
As eleições presidenciais de 2011 obrigaram-me a nova reflexão. Nomeadamente sobre o candidato Manuel Alegre, apoiado pelo PS, BE e MRPP/PCTP (desde ontem ).
Porque raio terei que votar em Manuel Alegre ?
Pelo seu passado anti-fascista ? Parece-me razoável mas insufuciente.
Por ter contribuido para que o regime democrático fosse uma realidade em Portugal ? Ainda mais razoável e quase suficiente.
Mas depois lembro-me da sua inexistência como deputado. Foi anos a fio deputado e não me lembro de uma única iniciativa legislativa meritória. E na última legislatura lembro-me de ter sido contra as reformas que o 1º governo de José Sócrates tentou fazer na Educação e na Saúde, com os argumentos mais reaccionários que eram apresentados seja pelas respectivas corporações seja pelo BE e pelo PCP. Aos quais curiosamente (ou não ) a direita se juntou. Isto para já não falar da co-inceneração em Souselas.
Nos últimos 5 anos deixou-se intrumentalizar pelo tele-evangelista Francisco Louçã que pretende fracturar o PS e construir uma grande esquerda, seja o que isso for. Francisco Louçã que curiosamente ( ou não ) não o apoiou há 5 anos. Pudera, preferiu ser ele o candidato do BE para ter tempo de antena e assim fazer crescer o Bloco nas legislativas seguintes. O que conseguiu. Tele-evangelista mas não parvo.
E agora que a campanha vai a meio o vazio de ideias é total. Passa o tempo a falar de Cavaco e não diz ao que vai se for eleito Presidente da República. Não consegue apresentar de uma forma simples e clara as ideias centrais. A campanha está morna. Não galvaniza. Perdeu a confiança de muitos militantes e votantes socialistas.
Assim sendo no próximo dia 23 de Janeiro levanto-me cedo, tomo o pequeno almoço ( como é um domingo : uns ovos estrelados com presunto , um copo de leite frio e um café ), vou até à assembleia de voto e anulo o meu voto...mas sem inscrição revolucionária.
É um acto de cidadania como outro qualquer.
No dia seguinte a democracia continua. Há que melhorá-la. Essa é a tarefa de todos nós.
9 comentários:
Voto como já tinha afirmado há muito tempo, no Dr. Fernando Nobre.
Eu vou votar. Logo se vê. Mas não quero objectivamente contribuir, por pouquinho que seja, para a reeleição de CV.
Mais um para o clube...
Desde 74 que voto sempre. Nunca votei em branco nem nulo. Os meus amigos estão fartos de ouvir esta conversa: Tenho como princípio que, estando grato por viver em democracia (que foi o meu sonho até aos 21 anos)o meu voto tem que ser sempre em alguém, senão não faz sentido. Não é uma questão de votar no mal menor mas de votar no possível. Sinceramente acho uma irresponsabilidade não votar, votar nulo ou branco. Se estamos frustrados com a oferta temos obrigação de a criar: entrar nas estruturas partidárias e participar. A tendência é ficarmos no nosso comodismo burguês e desprezarmos os "nosso" políticos. No fundo, é-nos indiferente,ficamos todos contentes porque somos muito inteligentes e além disso temos mais que fazer, e no entanto é isso que vai matar a democracia. Depois teremos muita oportunidade de nos lamentarmos e dizermos mal de tudo.
Confesso que estou com grande dificuldade em me decidir no dia 23.Para já discordo em absoluto com o regime de semi-presidencialista. É um sistema que promove a irresponsabilidade. É votar no "tacho" supremo.
O Alegre, que seria o meu voto "tradicional", tenho vergonha de o ouvir, no Cavaco nunca votei nem vou começar agora, o "comuna" é contra os meus interesses,os outros dois devem ser bons rapazes mas não têm ideias. Querem ver que ainda vou votar no Coelho? É o único que ainda me faz sorrir.
ORTEGA
Se Cavaco não falar hoje, Alegre não tem inspiração para falar amanhã.
Como é que se faz para assinar em baixo de quase tudo o que escreveu o Ortega? E da mdsol.
Outra coisa: ouvi algures que abstenção e voto branco ou nulo equivale ao mesmo, no caso das eleições para a Presidência da República. Veja lá, António, se calhar não precisa de madrugar no próximo domingo.
Pois é Helena,
também gostei do que o meu amigo Ortega escreveu. Como ele é tímido :)) transmitierei pessoalmente o seu elogio.
E também da mdsol, como sempre :))
Mas continua a não me convencer.
Mas como digo : no domigo levanto-me cedo e vou anular o voto, o que é muito diferente da abstenção. Não tenho culpa que do ponto de vista de contabilidade a lei seja um absurdo.
Pena que em Berlim não possa votar...ou pode ?
Eu também subscrevo quase tudo o que o Ortega escreveu exceto (é assim que se escreve agora não é?)no que diz respeito ao "tacho". Apoucalhar a política e os políticos não melhora em nada a democracia.
Também votei sempre e não considero de todo errado, embora desconforável, o voto útil.
Desta vez vou mesmo decidir com o papel à frente.
António: eu vou fazer o mesmo. Abraço. Tomás Vasques.
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