16/10/11

"Vamos todos trabalhar mais 1800 segundos por dia"

...era assim que eu anunciaria, se fosse 1º ministro, a decisão que Pedro Passos Coelho ( o verdadeiro e único 1º ministro de Portugal ) tomou há 2 dias.
Esmagava-nos. Obrigava-nos a fazer contas. " Êpá isso é quanto em horas de ronha ? ", perguntariam os mais batidos.
Mas não, apenas disse que trabalhariamos mais meia hora por dia.
Meias ( horas ) ou segundos sentidos à parte, o Pedro não nos pediu ( ou será melhor dizer : não nos ordenou ?) que produzissemos melhor e com mais produtividade. Apenas disse :" Vá lá ajudem-me e fiquem só mais meia horinha no emprego."
Para coçar os ditos, pergunto eu.
Não havendo encomendas dos clientes para satisfazer, trabalhar mais meia hora significa produzir para stock ?
Esta decisão só me fez lembrar uma história que se passou comigo. Vai para 24 anos. Era eu chefe de estaleiro, na montagem de uma caldeira auxiliar. Para o norte, mas a sul do Porto.
A maioria dos operários eram adeptos do Futebol Clube do Porto. No dia 22 de Abril de 1987, uma 4ª feira, o FCP jogava, às 16h a 2ª mão da meia final da Taça dos Campeões Europeus ( ainda assim se chamava, a prova de que estou a ficar velho) contra o Dinamo de Kiev. O jogo era transmitido na RTP1 ( só podia, havia a 1 e a 2...estou mesmo velho). Desde a 2ª feira anterior que a "pressão" para que eu autorizasse o pessoal a sair mais cedo, para poderem ver o jogo na televisão, tomava as formas mais subtis a cargo dos chefes de equipa e encarregados. A subtileza tinha de ser dupla. Eu era o chefe de estaleiro e era ( e sou ) benfiquista. A ironia estava proibida. Na terça feira ao fim da tarde, face ao meu silêncio, o pedido foi verbalizado pelo encarregado mais velho. Eu, apenas lhe disse : "Amanhã entrem às 7 no estaleiro, que eu logo vos digo a decisão."
Na 4ª feira de manhã reuni com os encarregados e mostro-lhes o trabalho que estava previsto para esse dia ( nº de soldaduras, nº de vigas e outros componentes a montar, etc ) e disse-lhes :
" Meus senhores, como sabem o ensaio hidráulico da caldeira está marcado para 8 de Maio, ou seja daqui a 2 semanas, e não o podemos falhar. Portanto hoje executam o programa que agora vos entrego e o pessoal pode sair às 15h 45m para ir ver o jogo."
Foi um dos dias mais produtivos da montagem..e trabalhámos menos horas.
Se pensam que eu fui ver o jogo, tirem daí o cavalinho da chuva. Fiquei no contentor com o meu adjunto e o preparador de trabalho a fechar o dia e a preparar o seguinte. Chefe é chefe.
Já agora :
- o FCP ganhou 2-1 e foi à final que também ganharia ;
- o teste hidráulico da caldeira realizou-se na data prevista e não o tivemos de repetir, ou seja, trabalho concluido com êxito.

5 comentários:

Rodrigo Oliveira disse...

Excelente exemplo.
É tudo uma questão de motivação e incentivo.
É óbvio que, neste caso, a força motivacional se deveu ao grandioso FêCêPê :)))

Fernando Frazão disse...

Eu também estou a ficar velho.
Nos idos de 1978 comecei a trabalhar no departamento de Organização do maior banco nacional. A coisa era nova no panorama nacional, impulsionada pelo Dr. Ribeiro Moreira, um visionário; que mais tarde foi o principal reponsável pelo arranque da SIBS.
O primeiro curso foi dado no BP por um senhor espanhol chamado Jaime Pinedo (mais rtarde vim a saber que era um franquista convicto e, portanto insuspeito de tendencias esquerdistas), consultor de uma firma espanhola chamada Tea-Cegos.
No primeiro dia a lição foi breve mas marcou-me para o resto da vida. Não só me marcou como pude verificar, duraante 36 anos, que correspondia à verdade.
A coisa é simples. O Jaime começou a lição dizendo:
Vocês vão ser os agentes da mudança na vossa empresa e como tal têm que aprender a regra dos 10+10+80.
Alguém ouviu falar. Olhamos uns para os outros demosntrando a total ignrância sobre o assunto.
Bom a coisa é simples.
Num universo significativo de pessoas, 10% trabalham bem sempre, 10% trabalham mal sempre, e os restantes 80% trabalham mal ou bem conforme a organização onde estão inseridos. Nunca procurem os problemas e as soluções nas pessoas mas sim na organização.
Hoje ficamos por aqui, vão para casa e pensem nisto.
É verdade.
É por isso que me farto de rir (mais até, chorar) quando ouço falar em trabalhar mais sem uma única palavra sobre esta questão.
Cambada de ignorantes.

Anónimo disse...

Divulgue este vídeo. É do melhor que já vi.


http://youtu.be/gNu5BBAdQec

Pedro Passos Coelho -- Best of 2010-2011

LTM disse...

tio adorei ler este seu texto

Porfirio Silva disse...

PPC também gostava de ter um exemplo desses para contar... se fosse capaz de o entender, claro.