27/01/08

SNS : o outro telefonema de Alijó ( que nunca se realizou )

As gravações dos telefonemas para o 112 , no caso de Alijó, que as televisões e outros orgãos de informação divulgaram permitiu perceber qual o procedimento que se pretende pôr em prática.
Se eu bem compreendo agora :
- o doente ou alguém em nome dele telefona para o 112 que depois de identificar a ocorrência e sua gravidade entra em contacto com o INEM , hospital ou bombeiros mais perto ;
- com o devido apoio médico o centro do 112 envia o meio que lhe parece mais adequado.
- esse meio dá uma primeira assistência que estabiliza o doente e transporta-o para o hospital que terá meios para a intervenção de fundo.
Neste caso concreto verificou-se que foram cerca de 14 minutos de chamadas telefónicas que mostraram várias deficiências nomeadamente por parte dos bombeiros. Não vi relatado ao fim de quanto tempo terá chegado a assistência à pessoa em causa que, no entanto, já estaria infelizmente morta desde o 1º contacto.
Pelos vistos as chamadas ficam gravadas o que permitirá, e não é apenas um pormenor, analisar por quem de direito o ocorrido e assim serem tomadas acções correctivas para casos futuros.
O caso foi aproveitado por muitos para colocar em causa este novo procedimento. Desde o Bastonário dos Médicos até ao presidentes da Liga dos Bombeiros, passando por fazedores de opinião e políticos foi um fartar vilanagem e se bem percebi todos querem acabar com estas reestruturações e a solução seria voltar à situação anterior.
Assim sendo gostaria que alguém me explicasse qual era essa situação anterior e o que se teria passado usando os procedimentos "velhos". Como ninguém ( nomeadamente nenhum jornalista ) fez essa pergunta pus-me a imaginar o que antes as pessoas fariam :
- ligavam para os bombeiros, hospital ou centro de saúde mais perto, o que exigiria saber um nº de telefone com 9 dígitos;
- possivelmente no caso de Alijó se tivessem ligado para os bombeiros locais ( se tivessem o nº ) , o único bombeiro de serviço, que não saberia fazer as perguntas que a técnica do 112 fez, teria desligado e ligado para um hospital a solicitar ajuda para que alguém se deslocasse ao local (ou ter-se-ia deslocado para a residência do doente , não ficando ninguém na sede dos bombeiros ) ;
- possivelmente o meio deslocado, face à inexistência de um diagnóstico, não permitiria dar a assistência adequada e transportaria o doente para um hospital que provavelmente não teria os meios adequados, etc, etc ( e se o bombeiro se tivesse deslocado transportaria o doente para onde ? )
E no fim, se algo de incorrecto se tivesse passado haveria registos para saber o que funcionou mal ? Ou quem tinha sido o responsável pelas decisões tomadas ? E qual teria sido o tempo total desde a 1º chamada até à chegada de auxílio qualificado ?
São perguntas que possivelmente nunca terão respostas porque há quem prefira jogar com as emoções a analisar com calma e racionalidade as situações e aprender algo com elas de forma a que da próxima vez tudo corra melhor.
Sei que o tema da saúde não é propício a essa racionalidade já que está em causa a vida das pessoas mas pelo menos os responsáveis ( sejam do governo, da oposição da Ordem , etc ) deviam fazer um esforço.

6 comentários:

Anónimo disse...

... e porque não ligar para e recém-encerrado "serviço de urgência" de Alijó, a 5 minutos do local da ocorrência?

Al Kantara disse...

Caro anónimo, no caso em apreço, tenho muitas dúvidas quanto à argumentação do autor deste blog. Mas essa de ligar para o Serviço de Urgência é um bocadinho demais. Como devia saber, aos Serviços de Urgência deslocam-se os doentes pelos seus próprios meios ou por ambulância. Experimente o caro anónimo ter um enfarte em Lisboa e ligue para o Serviço de Urgência de S. José e vai ver o resultado...

Anónimo disse...

anónimo,

fez muito bem em colocar o serviço de urgência entre aspas ("serviço de urgência"). É que o mais provável, era que o dito serviço estivesse de porta aberta, sim, mas com um único médico que, na melhor das hipóteses poderia auscultar o doente e reencaminhá-lo para um serviço de urgência hospitalar (sem aspas). Os SAPs e serviços de urgência que fecharam, não tinham meios para socorrer uma situação de emergência. Não têm laboratório de análises, nem RX, nem condições de suporte básico de vida. O doente chegava ao serviço de urgência (com aspas), provavelmente esperava algum tempo atrás das dores de garganta, das insónias, dos mal estares gerais e toda a panaceia de sintomas que enchem os centros de saúde, era avaliado e reencaminhado para o hospital. Uma perda de tempo e de meios.

Karla

Anónimo disse...

Aqui à distância, a única coisa que ressalta nestes telefonemas que a televisão tanto divulgou, é a falta de profissionalismo, o lachismo, o "deixa-andar" como por aqui se diz. Até dos jornalistas que entendem que basta pôr as conversas para fazer notícia ... Por aí, há uma mania que o Estado e os governantes são responsáveis por tudo, parece que ninguém tem um papel a cumprir, parece que as pessoas não querem saber de resolver os assuntos...
Paula

António P. disse...

Viva Paula,
Podias ter informado os meus estimados leitores que o " Aqui à distância.." é de Moçambique que escreves.
Beijos

P.S. : desculpa a indiscrição !

Cristina disse...

é muito bom ver que alguem faz um esforço...:))

(cheguei cá através do Tomas Vasques)